Antes do sexo, sexualidade fala sobre habitar um corpo sensorial, expressão e jeitos de desejar
- talita.galana

- 29 de out.
- 3 min de leitura
A sexualidade não nasce com o sexo, nem se limita a ele. Ela começa bem antes — no aconchego, no olhar, na descoberta de estar vivo. Cresce entre o desejo e o interdito, entre o que o corpo sente e o que a alma sonha.
Falar de sexualidade é falar de como cada um aprende a habitar o próprio corpo, a se expressar e a se deixar atravessar pelo prazer, pela falta e pelo amor.
A sexualidade começa na infância
A sexualidade é uma das dimensões mais profundas da nossa subjetividade; é constituinte da identidade e da experiência humana. Ela não surge de repente na vida adulta — é algo que se forma desde a infância, nas primeiras experiências de prazer, de afeto e de contato com o outro.
Freud foi quem ousou dizer que a criança é um ser sexual — Calma! Não no sentido erótico. Ainda é desafiador, para muitos, aceitar que somos todos seres sexuais: habitamos um corpo sensorial, atravessados por emoções e movidos por pulsões, forças internas que buscam satisfação, aconchego e presença.
A amamentação, o aconchego, o olhar, o cheiro, as pequenas descobertas do corpo — tudo isso já participa da construção de uma sexualidade infantil, ainda difusa, mas fundamental para o modo como o sujeito se relacionará com o prazer e com o desejo no futuro.
As marcas do prazer e do afeto
Cada fase do desenvolvimento infantil deixa rastros. A boca, o controle dos esfíncteres, o olhar do outro — todos esses elementos participam da história de prazer que será única em cada pessoa.
Mas a sexualidade não se forma apenas nas sensações corporais. Ela é tecida também nas relações: nas presenças e ausências, nos afetos e frustrações, nos modos como o amor foi recebido e como o desejo pôde — ou não — ser expresso.
A forma como fomos olhados, tocados e acolhidos molda o modo como nos permitimos sentir, desejar e nos vincular. Os primeiros “nãos” e o surgimento da autonomia, o que observamos e internalizamos sobre ser homem, mulher, casal, poder se expressar… o que aprendemos a reconhecer como agradável ou desagradável.
Por isso, a sexualidade fala tanto do corpo quanto da psique — é o território onde o biológico e o simbólico se encontram.
Atravessamentos e transformações
Ao longo da vida, a sexualidade é atravessada por múltiplas forças: o inconsciente, a cultura, os vínculos, as normas sociais e a identidade. Ela se transforma, se desloca, se reinventa — acompanhando o sujeito em cada etapa da existência: nas descobertas da adolescência, nos amores da vida adulta, na maturidade do corpo que muda e continua desejante.
A sexualidade é, assim, uma linguagem viva — uma forma de expressão do desejo, do afeto e da singularidade. Está no corpo que dança, na palavra que toca, no olhar que encontra, na imaginação que se permite.
Integrar a sexualidade é integrar a si mesmo
Cada pessoa vive sua sexualidade de um jeito, porque cada história é feita de experiências, fantasias e desejos próprios. Reconhecer isso é um ato de acolhimento e de responsabilidade: compreender que a sexualidade não é algo a corrigir, mas algo a escutar, simbolizar e integrar como parte essencial de quem somos.
Quando o sujeito se permite olhar para sua própria sexualidade — com curiosidade e menos julgamento —, ele se aproxima da sua verdade, da sua história e da potência de viver o prazer como expressão da vida, respeitando seus limites e os do outro.
"Prazer não se reserva ao ato sexual, não é apenas algo a ser alcançado, mas uma forma de estar no mundo, de se conhecer e de se cuidar". Talita Galana Tokimatsu
Nesta sessão, quero te convidar a olhar para sua sexualidade com curiosidade e respeito, percebendo que ela é um território rico e transformador, que vai muito além do ato sexual. Um espaço para se conhecer, se sentir e se afirmar — vivendo o prazer de ser quem você é.
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